No seu primeiro ano de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apelou diversas vezes para a memória de seus mandatos anteriores. Além de repaginar programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, ele trouxe dos anos 2000 conceitos econômicos desgastados. Logo de início, o presidente questionou a autonomia do Banco Central, avanço histórico e importante para a estabilidade da moeda, e não poupou críticas ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, acusado pelo petista de manter a Selic, a taxa básica de juros da economia, em níveis elevados para prejudicar o governo. Campos Neto baixou os juros apenas no momento certo, após haver solidez nos sinais de desinflação, e não a gosto do presidente de turno. Resultado: o dragão dos preços foi domado, o que beneficia, registre-se, o próprio governo.
Da cartilha petista, vieram também as pautas gastadoras e estatizantes. No primeiro caso, o governo Lula 3 reeditou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de triste lembrança para os brasileiros. Em sua encarnação anterior, o PAC deixou um rastro de obras atrasadas, construções abandonadas e contratos com sobrepreços. Será diferente agora? Os velhos dogmas petistas também foram reforçados quando o governo questionou no Supremo Tribunal Federal a privatização da Eletrobras. Já na Petrobras, agiu para iniciar a reestatização de refinarias.
Como se não bastasse, os petistas tentaram anular conquistas recentes da sociedade brasileira, como o novo marco do saneamento, que destravou bilhões de reais em investimentos no setor, e a reforma trabalhista, que atualizou as relações entre empregados e empresas em um mundo marcado por revoluções tecnológicas e novas demandas de trabalho. A atual gestão defende a revisão de pontos básicos da reforma, como uma alternativa ao fim do imposto sindical, numa tentativa nada sutil de revigorar os sindicatos. E mais: tem a intenção de criar vínculos trabalhistas para motoristas de aplicativos, uma pauta com o mofo dos anos 1930. Em 2023, o governo Lula perdeu tempo demais olhando para o retrovisor. É hora de mirar para a frente.
Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873
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