O ano que se inicia começa por estar envolto na incerteza geopolítica de duas guerras, mas tem de se assinalar que é possível que não haja grandes consequências económicas no curto prazo, como não tem ocorrido nos últimos meses. A médio prazo, vamos ter de lidar com a reconstrução da Ucrânia e o alargamento da União Europeia (UE), duas grandes dificuldades políticas.
Seguem-se as incertezas eleitorais. Em Portugal, é provável que não seja possível formar um governo estável, pelo que poderemos ter de repetir a ida às urnas em 2025. Nas eleições europeias de Junho, desenha-se um máximo dos partidos de extrema-direita, inimigos da solidariedade europeia e um travão à expansão da UE. Mas a dúvida maior é sobre as presidenciais nos EUA, que poderão ser ganhas por Trump, o que dificultará a ajuda à Ucrânia, com graves consequências para a Europa.
Em termos mais estritamente económicos, deve ter início o ciclo de descidas de taxas de juro pelos principais bancos centrais. O Banco Central Europeu (BCE) está agora muito mais optimista sobre a inflação e isso abre margem para um número significativo de descidas, que começam já a ser antecipadas pelo mercado, em particular na Euribor a 12 meses.
O regresso das regras orçamentais deverá contrariar parcialmente este efeito expansionista, esperando-se um crescimento moderado na zona euro, ainda abaixo do potencial de médio prazo, também afectado pela debilidade da economia chinesa, um mercado importante de destino dos principais exportadores europeus.
A especial sensibilidade da economia portuguesa às taxas de juro do BCE, pelo peso das taxas variáveis, poderia estimular um crescimento mais expressivo, mas a incerteza política, antes e depois das eleições, deverá limitar este efeito.
Como é evidente, os próximos doze meses poderão ainda presentear-nos com novidades que nem sequer nos passam pela cabeça, como tem sido habitual nos últimos anos. As alterações climáticas poderão constituir uma dessas surpresas, mas a imigração também, um tema que tem estado adormecido, e a que Portugal tem sido poupado, por pura sorte, já que não tem havido a menor preocupação em lidar com os contingentes mais recentes, de origens menos comuns e potencialmente mais “desafiantes”.
Aliás, todo o trabalho de extinção e substituição do SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras tem batido recordes de irresponsabilidade e falta de respeito pelos imigrantes. Bom Ano a todos!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.