O sector da construção teve, em tempos, um peso na economia portuguesa que poucos poderiam ambicionar. Durante três décadas, construíram-se pontes, autoestradas, exposições universais, estádios e outros projetos. Construíram-se escolas, hospitais, centros de saúde, repartições públicas, unidades industriais e as mais diversas infraestruturas num país que precisava delas para poder desenvolver-se, gerar mais riqueza e, assim, oferecer melhores condições de vida aos seus cidadãos.
Cometeram-se muitos erros ao longo desses anos, alguns dos quais ainda estamos a pagar. Mas será que conseguimos imaginar como seria viver num país sem estradas decentes, onde ir de Lisboa a Bragança levava praticamente um dia de viagem? Ou onde contornar a ilha da Madeira, para chegar do Funchal a Porto Moniz, demorava seis ou sete horas?
As construtoras portuguesas foram as grandes protagonistas desses anos de grande azáfama, muitas vezes com uma proximidade excessiva ao poder político. Até que rebentou a crise do subprime e, poucos anos depois, a crise da dívida soberana que obrigou Portugal a pedir assistência internacional.
O Estado travou a fundo nas obras públicas e os privados, muitos deles em dificuldade, idem. Depois de durante anos a fio ter financiado o sector de forma pouco prudente (Portugal criava moeda através da urbanização de terrenos rústicos e da sua valorização a preços irrealistas, diziam alguns), a banca foi obrigada pelos supervisores, e pelas circunstâncias, a fechar a torneira às construtoras, levando a que, desde então, muitas tenham fechado portas. Outras, como a Mota Engil, sobreviveram e prosperaram, porque encontraram outros mercados no exterior que compensam a falta de negócio em Portugal.
Desta forma se perderam competências críticas numa área chave para o futuro, ao ponto de hoje ser muito difícil ao sector dar resposta a grandes projetos, como o novo aeroporto de Lisboa, ou a vaga de reindustrialização verde que alguns analistas antecipam (ver cobertura da conferência Forma Futura, na edição de hoje, 30 de novembro).
Enquanto isso, nos últimos dez anos, deixámos de construir habitações em número suficiente e estamos a agora a ver os resultados dessa opção.
Está na hora de olhar para o sector da construção com outros olhos e de procurar novos caminhos, por via da tecnologia, da simplificação de processos e de incentivos ao investimento e à captação de talento, para que esta atividade possa renascer num quadro de maior sustentabilidade, transparência e concorrência saudável. Mas haverá vontade política para isso?