O multimilionário britânico Jim Ratcliffe assegurou uma participação de 25% no Manchester United, anunciou o clube no domingo, num desfecho há muito aguardado depois de, em novembro de 2022, a família Glazer ter feito saber que estava a estudar opções estratégicas para o clube.
O negócio é estimado em 1,25 mil milhões de libras (cerca de 1,4 mil milhões de euros), apurou a comunicação social inglesa, com os donos do United e os acionistas classe A a receberem 33 libras (cerca de 38 euros) por ação.
Em destaque no acordo entre o clube inglês e o CEO da INEOS, multinacional da indústria química com uma presença crescente no futebol, está um investimento de 300 milhões de dólares (cerca de 272,37 euros) “destinado a permitir um futuro investimento em Old Trafford”, mais precisamente em infrestruturas, um dos alvos de Cristiano Ronaldo, recorde-se.
Jim Ratcliffe, através da INEOS, vai assumir a responsabilidade por toda a gestão das operações de futebol.
“Como parte da transação, a INEOS aceitou um pedido do Conselho de Administração para que lhe fosse delegada a responsabilidade pela gestão das operações de futebol do clube. Isto incluirá todos os aspetos das operações de futebol masculino e feminino e das Academias, juntamente com dois lugares no conselho do Manchester United PLC e nos conselhos do Manchester United Football Club”, é detalhado no comunicado publicado na página do clube inglês no domingo e replicado pela INEOS.
A transação será financiada pela Trawlers Limited, uma empresa detida a 100% por Ratcliffe.
Em fevereiro, o empresário de 71 anos havia feito uma oferta de compra de 69% do Manchester United – a percentagem detida pela família Glazer -, mas terá aceitado tornar-se acionista minoritário.
O negócio está sujeito à aprovação da Premier League.
“Como pessoa de Manchester e apoiante do clube desde sempre, estou muito satisfeito por termos conseguido chegar a um acordo com a direção do Manchester United que nos delega a responsabilidade pela gestão das operações de futebol do clube. Embora o sucesso comercial do clube tenha assegurado que sempre houve fundos disponíveis para ganhar troféus ao mais alto nível, este potencial não foi totalmente desbloqueado nos últimos tempos”, afirmou Ratcliffe, citado no comunicado de imprensa.
Nas palavras de Ratcliffe, o grupo INEOS Sport irá garantir um “conhecimento global, experiência e talento mais alargado para ajudar a impulsionar mais melhorias no Clube, ao mesmo tempo que disponibilizamos fundos destinados a permitir futuros investimentos em Old Trafford”.
A INEOS reforça, assim, a sua presença no mundo do desporto, detendo um crescente portefólio de investimentos em projetos no futebol, ciclismo, na Fórmula 1, atletismo e vela. Em 2019, passou a controlar o clube francês Nice por 100 milhões de euros. Na Fórmula 1, em 2020, adquiriu uma participação de um terço na equipa da Mercedes.
Avram Glazer e Joel Glazer, citados no comunicado do clube, mostraram-se “muito satisfeitos” pelo “acordo com Sir Jim Ratcliffe e a INEOS”. “Como parte da revisão estratégica que anunciámos em novembro de 2022, comprometemo-nos a analisar uma variedade de alternativas para ajudar a melhorar o Manchester United, com foco no sucesso das nossas equipas masculinas, femininas e da Academia”, justificam.
O acordo vem dar algumas luzes sobre os planos da família Glazer para o clube, que têm sido fortemente criticados pelos adeptos dado o declínio no desempenho desde que Alex Ferguson deixou o comando dos “Red Devils” em 2013.
No ano passado, vários meios noticiaram que a família Glazer estava à procura de novos investidores, sem ceder, contudo, o controlo total do capital do Manchester United, avaliado em cerca de 5 mil milhões de libras. O Sheik Jassim Hamad Al Thani, filho do emir do Catar, era outro dos nomes interessados na aquisição do clube, mas viu a sua proposta de 5 mil milhões de libras (5,6 mil milhões de euros) ser recusada pelos Glazer.
“Sir Jim e a INEOS trazem uma grande experiência comercial, bem como um compromisso financeiro significativo para o clube. E, através da INEOS Sport, o Manchester United terá acesso a profissionais de alto desempenho, com experiência na criação e liderança de equipas de elite, tanto dentro como fora do jogo. O Manchester United tem pessoas talentosas em todo o clube e o nosso desejo é melhorar sempre a todos os níveis para ajudar a trazer mais sucesso aos nossos grandes adeptos no futuro”, finalizam os copresidentes executivos e diretores do clube, que adquiriram o clube por menos de mil milhões de euros em 2005, citados no comunicado.
A propósito do anúncio de fundos para investimento em infraestruturas importa recordas as palavras de Cristiano Ronaldo que, no ano passado, na altura em que deixou os “Red Devils”, criticou a falta de investimento em infraestruturas e tecnologia, acusando a administração liderada pela família Glazer de “não se importar com a faceta desportiva” e de fazer do United “um clube de marketing”.
“O Manchester United é dos adeptos e eles têm de saber que as infraestruturas não são boas e têm de mudar. Se não mudarem, o clube não vai estar onde estava na ‘era’ Alex Ferguson e [o antigo diretor-executivo] David Gill”, afirmou, em novembro, o internacional português em entrevista a Piers Morgan.